Saiu de casa. Fechou a
porta. Quando colocou o pé na calçada, percebeu que pisara em uma enorme
minhoca. E apesar daquela criatura ter a metade do seu corpo destruída, a outra
metade – irrequieta – parecia exigir o direito de viver!
Ele controlou o asco
e continuou o seu caminho. E até já havia esquecido o episódio com o longilíneo
ser, quando se deparou com uma porção de vermes, também na calçada, se
estrebuchando. Achou estranho, pois não havia nenhuma matéria putrefata no
local que justificasse aquela cena.
Sentiu um calafrio na
espinha. Porém, agitou a cabeça na tentativa de esquecer aquilo.
Andava rápido e tenso.
À frente, um enxame
de moscas fazia um tipo de bloqueio muito sinistro no seu caminho. Moscas
pequenas, grandes, escuras, verdes... De todos os tipos. E um zumbido
exasperante. Espanou a mão no ar para espantar os insetos. E rompeu a barreira,
correndo, com a boca e os olhos fechados.
Sentiu-se perturbado
por todos esses eventos.
Com um passo nervoso,
sentindo ânsia de vômito, olhava para trás todo instante tendo a sensação de
estar sendo seguido, andava cada vez mais rápido. Tropeçou nos próprios pés e
caiu. Deu com a cara no solo.
Ainda com medo,
porém, sentindo mais raiva naquele momento devido à própria distração, praguejou.
No entanto, sua atenção foi chamada para o alto ao ouvir o grasnar de um urubu
que estava em cima de um muro e olhava diretamente para ele. Um horror profundo
tomou conta do seu ser. Suas mãos encresparam agarrando o chão numa tentativa
débil de não ser arrancado dali pela lúgubre criatura.
Um grito mudo saiu de
sua boca e, em seu coração, pedia a todas as divindades que aquilo parasse.
Saindo do transe,
levantou-se de pronto e correu o mais rápido que pode. Atravessou a rua sem
olhar para os lados e um carro acertou-lhe em cheio.
Seu corpo foi lançado
para a calçada oposta. Pousou no chão quente já sem vida.
O seu rosto era a própria
imagem do terror congelada para sempre nele. Pessoas foram se aproximando para
ver de perto a infelicidade que caíra sobre aquele pobre homem. Não para se
compadecer de sua morte, mas mais para se sentirem aliviadas por não serem elas
a escolhida para fazer a inevitável viagem.
Entre os curiosos,
uma figura anormalmente alta e magra, aproximou-se mais e, com seus longos
dedos, tocou levemente sua face, ajudou a fechar-lhe os olhos, segurou a mão
daquele desgraçado e a apertou com força.
Aproximou a boca
quase descarnada do ouvido dele e sussurrou:
- Cheguei.
(*)TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA "VEM-VÉRTEBRAS"
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