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Respira.
Na
verdade, ele não disse isso. Apenas pensou. Afinal, impossível falar quando se
está submerso.
Enquanto
afundava, esperava perder a consciência antes de tocar o fundo do mar.
Havia
muita coisa acontecendo ao mesmo tempo... Sentia-se esgotado. Sem saída.
Deixou
que a ideia da inexistência do amor tomasse proporções colossais em sua vida. E
com o passar dos anos, se afastou gradualmente de todas as pessoas que se
importavam com ele.
Inapto
para seguir qualquer caminho profissional [pelo menos, era o que achava], pulou
de emprego para emprego. E assim, as contas aumentaram.
Um
dia, viu-se só, “desamado”, em um subemprego e com muitas dívidas. A única
coisa que veio em sua mente naquele momento foi o mar. Sentiu saudade do mar
que nunca vira. Nascido e criado longe do litoral, sempre se contentou com os
rios e lagos de sua cidade. Nunca foi audaz para ir encontrar o mar. Porém,
nesse momento de saudade e vontade, usou os últimos recursos que tinha – que
eram poucos –, enfrentou algumas horas de ônibus até chegar na cidade litorânea
mais próxima.
Viu
aquela imensidão sentiu-se pequeno. Menor do que os grãos de areia que se
espalhavam entre os seus dedos a cada passada.
Roubou
um pequeno barco que estava ancorado na praia e partiu em direção ao mar aberto.
Já distante, parou de remar.
Saltou.
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Respira!
O coitado não parava de repetir isso
para a esposa. Estava muito nervoso. Era o primeiro filho do casal.
E
ela lá, em seu trabalho de parto, sentindo todas as dores do mundo, ainda tinha
que aturar os gritos nervosos do marido.
Sentiu vontade de dizer-lhe que não
pretendia parar de respirar, portanto, ele não precisava mandar que respirasse.
Mas sabia que, no fundo, ele só queria participar daquele momento. Era um bom
marido e, tinha tudo para ser o melhor pai que aquela criança poderia querer.
Como
se a coitada precisasse de mais dor, ele apertava a mão dela. Estavam os dois
prestes a explodir de nervosismo e tensão.
Por fim, a criança saiu. Em
silêncio. Mãe e pai só tinham o mesmo pensamento.
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Respira...
Repetia para o corpo inconsciente do
irmãozinho.
Os pais se preparavam para sair e proibiram os dois de se
aproximarem da piscina. Mas tão logo saíram, ele desafiou o mais novo a dar um
mergulho.
Foram.
Então,
começaram a brincar de tentar afogar o outro. Ele não percebeu que forçara
tempo demais o irmão embaixo d’água.
Desesperado, ergueu-o até a borda e sem
saber o que fazer, só pedia que ele respirasse.
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Respira.
Foi a primeira coisa que disse para
o namorado quando desceram do carro.
Aquela
fazenda ainda tinha cheiro de infância para ela. Apesar de ser da cidade,
crescera fazendo visita constante aos avós. Tinha uma relação maior com a
fazenda – consequentemente a vida no campo – do que com a “cidade grande”.
Viveu
muita coisa boa lá e sabia que, a nova família que estava formando, também
iria.
Ele,
ainda tentando se acostumar com a ideia dessa mudança radical de vida, estilo,
geográfica... Tudo!
Ela,
boba olhava para tudo aquilo como se fosse a primeira vez.
O
abraçou e só que queria que ele respirasse e sentisse como aquele ar era
gostoso e o quanto iria fazer bem aos dois. Aos três, se corrigiu. Pois já
carregava uma pequenina em seu ventre. Abraçou-o mais forte.
TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA "VEM-VÉRTEBRAS"
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