segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

SEGUNDA-FEIRA

O dia estava normal. Matematicamente normal naquela manhã: pássaros passariando, folhas caindo, pessoas compromissadas – a futilidade vestindo-se de rotina. Eu? Só estava sentado.

Esperava, tristemente, minha aula começar (eram 8:30 do título e meu professor estava religiosamente com improvisos de horário) e comia uma criminosa fatia de bolo - mole - é claro, e tomava um providencial café com leite. Foi quando o vi. Vagaroso e decidido, passando por entre os banquinhos que formam as pracinhas da universidade.

Era apenas mais um (dentre tantos) que vadiam pelo campus: gatos, alunos, pombos, servidores, insetos, livros, carros, problemas e dúvidas... Não me chamou particularmente a atenção, mas como estava vindo na direção do meu olhar, pude observá-lo melhor: estava magro, ossudo até (provavelmente, como os irmãos), sujo sim, mas não repulsivo. Compartilhava com todos o derrotismo de sonhos destroçados e a dignidade encontrável apenas naqueles que nada têm.

Seu gingado era um lamento, como se a qualquer momento, fosse desabar ao cimento, de tanto mal-estar. O peso da fome não se pode disfarçar. Aproximou-se. Fitou-me com seus olhos de lamúria. Não foi difícil perceber o que precisava. Apenas uma migalha de atenção, um pedaço de carinho, uma fatia de afago. Joguei-lhe minhas sobras (não tinha nada mais) e pude perceber seus dentes – os poucos que restavam – amarelados e desgastados, acostumados, quem sabe, à ossos e a indiferença, às esmolas e pontapés.

Observei-o seguir adiante (o que mais lhe restava?), cambaleante e patético. Triste, rotineiramente triste. Mordiscando o começo de seu dia.

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